O Ministério Público indiciou oito policiais militares depois de 4 anos do assassinato da líder comunitária e moradora da Vila Cruzeiro (bairro de Porto Alegre), Jane Beatriz da Silva Nunes. A decisão foi tomada em resposta a um recurso do Ministério Público, após denúncia que indicava a ocorrência de homicídio qualificado cometido pelos oito PMs não ter sido acolhida pela justiça.
Jane faleceu no dia 8 de dezembro de 2020, aos 60 anos, em decorrência de uma abordagem truculenta do Batalhão de Choque. Após retornar do mercado, ela se deparou com os oito PMs dentro de sua casa, que a impediram de entrar.
Como relatou a sobrinha de Jane, Taíssa Rodrigues da Silva: “Ela foi chegar em casa, eles já tavam lá dentro e não deixaram ela entrar”, Marilene Ferreira de Souza, vizinha de Jane, continua o relato “Ela perguntou o que eles estavam fazendo. Empurraram ela com a arma, ela resvalou e caiu no pé deles”, afirmaram ambas ao monopólio de imprensa RBS TV. O Instituto-Geral de Perícias constatou que Jane sofreu um aneurisma após cair da escada na entrada do terreno, onde foi levada ao atendimento médico pelos próprios agressores, porém não resistiu.
Os policiais alegam que Jane passou mal durante a abordagem, sofrendo um mal súbito, segundo o Comandante da Brigada Militar, Cláudio dos Santos Feoli. Os policias teriam invadido a residência após uma denúncia de um pedestre, que alegou haver violência contra crianças na casa de Jane — fato este contestado segundo a representação legal da família da vítima durante o processo, que diz não haver nenhum relato de violência ou abusos na casa de Jane.
A morte de Jane gerou revolta na comunidade da Vila Cruzeiro, que realizou um protesto na tarde do dia 8 de dezembro, bloqueando vias e ateando fogo em um carro. Os manifestantes foram reprimidos após o Batalhão de Choque ser acionado.
O caso de Jane se assemelha com o da trabalhadora Sabrina de Oliveira Moreira, que foi assassinada com um tiro à queima-roupa após defender o irmão de uma abordagem arbitrária da PM, e também com o assassinato de Vladimir Abreu de Oliveira na invasão da PM no condomínio Princesa Isabel. A polícia militar tem intensificado no estado o grau de violência impune contra o povo, com uma onda violenta de repressão às massas que vem crescendo desde o ano passado.
Publicado em: 2024-12-26 15:08:00 | Autor: Maxuel Chaves |