Fotos: Laura Dalto e Lautaro Ricardo
As imagens viajaram pelo mundo. Uma operação de segurança excessiva, ordenada pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, reprimiu torcedores de vários times de futebol que se reuniram em frente ao Congresso Nacional para se juntar a grupos de aposentados em um protesto exigindo aumentos salariais. O Ministério da Segurança Nacional confirmou 103 prisões e 20 feridos, incluindo o fotógrafo Pablo Grillo, que está hospitalizado em estado grave após ser atingido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo.
Centenas de pessoas começaram a fugir descontroladamente da praça diante da investida policial, enquanto a linha de frente, diante ao Congresso, resistia à tropa de choque.
A princípio, as colunas mais organizadas se recusaram a voltar para casa e decidiram marchar pela Avenida de Mayo em direção à Casa Rosada, sede do governo argentino, atirando pedras no prédio. As ruas ao redor também estavam cheias de milhares de torcedores, sindicalistas e aposentados, que cobriam o rosto com lenços para reduzir o impacto do gás lacrimogêneo e ajudavam uns aos outros a aliviar a ardência nos olhos. “Como deve ser feio, como deve ser feio, bater em aposentados para poder comer.”
Durante as primeiras horas da manhã desta quinta-feira (13), protestos com panelaços ocorreram em resposta à repressão. Mais tarde, o tribunal ordenou a libertação imediata dos presos durante a manifestação. Hoje, organizações de direitos humanos e sindicatos de imprensa anunciaram que apresentarão uma queixa à ONU e à CIDH devido à escala da violência e às ameaças do governo nacional, que classificou os protestos como uma “tentativa de golpe de Estado”.
A mentira oficial
A primeira reação oficial veio do chefe de ministros, Guillermo Francos. “Foi algo totalmente planejado. Eles usaram os poucos aposentados que foram protestar — o que fizeram com todo o direito — e transformaram isso em uma expressão de violência, algo típico dos hooligans. Nos últimos dias, houve uma série de movimentos políticos com o objetivo de tentar desestabilizar o governo”, declarou Francos.
A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, foi além. Segundo sua interpretação, a polícia frustrou uma tentativa de “derrubar o governo”. “Essas pessoas, que estão politicamente unidas para derrubar o governo, vieram preparadas para matar desta vez. Apreendemos armas de fogo, facas e dois tipos de rifles de precisão para furar os pneus dos carros de patrulha”, afirmou ela.
A Casa Rosada tentou associar os manifestantes aos torcedores violentos de clubes, conhecidos na Argentina como barrabravas. A ministra da Segurança também ameaçou os torcedores, alertando que poderiam ser impedidos de entrar nos estádios — um ritual sagrado para milhares de argentinos todo fim de semana — caso bloqueassem ruas ou participassem de distúrbios.
A faísca foi acesa há algumas semanas, quando, em outra manifestação de aposentados, um homem idoso, vestindo uma camiseta do Chacarita, foi ferido pela polícia. Na semana seguinte, o clube convocou seus torcedores a protestar contra a repressão policial e a garantir a segurança de seus aposentados. Nesta quarta-feira, o apelo se estendeu a todos os clubes. Manifestantes vestindo camisas do Boca Juniors marcharam ao lado de outros trajando as cores do River Plate, Tigre, Racing, Independiente e Argentinos Juniors, entre muitos outros. Camisas de futebol se misturavam a bandeiras de sindicatos e partidos políticos.
“O direito de protestar é garantido pela Constituição”, ressalta o advogado e torcedor do Racing, Pablo Torres. Membro do grupo Movimiento Racinguista, um dos organizadores da marcha, ele afirma que a mobilização surgiu da “indignação de ver como idosos e aposentados são agredidos, quando deveríamos entender por que eles estão nas ruas, pois lhes é negado o direito de viver com dignidade”.
Os aposentados têm sido os mais afetados pela política de austeridade de Milei desde sua posse. A pensão mínima, de pouco mais de 300 dólares, está próxima da linha da pobreza. A queda na renda é agravada pelo aumento das despesas, especialmente com medicamentos, cujos preços foram liberalizados pelo governo e subiram muito acima da inflação.
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Publicado em: 2025-03-13 18:38:00 | Autor: <span>Emergentes</span> |