Na tradição judaica, a Páscoa comemora a libertação dos hebreus da escravidão no Egito, liderada por Moisés, conforme o livro do Êxodo. Essa celebração já existia séculos antes do cristianismo e envolvia o sacrifício de um cordeiro e uma refeição ritual. No hebraico, “Pessach” significa “passagem”, Páscoa para os cristãos.
No Brasil de maioria cristã (católicos, ortodoxos e protestantes), a Páscoa é a maior celebração litúrgica, somente suplantada pelo Natal. A Semana Santa não é apenas um feriadão. Representa a esperança, a renovação espiritual, a vitória do bem sobre o mal e da vida sobre a morte.
Missas, procissões, vigílias, jejuns e a Paixão são ritos de passagem que fortalecem a solidariedade e a fraternidade na sociedade. Mesmo o lado comercial da Páscoa tem esse significado: a origem da tradição é o culto à Eostre, deusa anglo-saxônica da fertilidade e do renascimento, que coelhos e ovos de Páscoa representam.
Como no interregno entre as das grandes guerras mundiais do século passado, vivemos tempos sombrios, nos quais religiões servem para legitimar guerras civis e punitivas, projetos expansionistas e reacionários.
Vivemos a incerteza e a insegurança da maior desordem internacional desde Segunda Guerra Mundial, devido à truculência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com sua mentalidade de querer se impor pela força, aliado de Vladimir Putin (Rússia) e Benjamin Netanyahu (Israel), senhores da guerra.
Há 122,6 milhões de pessoas deslocadas no mundo, segundo dados do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), dos quais 72,1 milhões são fugitivos em seu próprio país e 43,4 milhões, refugiados em busca de proteção em outras nações. Em 2016, eram cerca de 67 milhões.
Mesmo assim, Trump suspendeu os recursos destinados aos programas de ajuda humanitária. A USAID, responsável pela assistência externa dos EUA, teve 10 mil programas de ajuda em todo o mundo interrompidos. Programas de saúde, como o PEPFAR, que fornece tratamento para HIV em 54 países, e agências da ONU, como a UNRWA, que apoia refugiados palestinos, perderam a ajuda dos EUA.
Reze pelo Haiti
Nesta Páscoa, após dois anos de guerra civil entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), o Sudão registra mais de 12,6 milhões de deslocados, incluindo 4 milhões que buscaram refúgio em países vizinhos, como Chade e Egito. Cerca de 25 milhões de pessoas enfrentam fome extrema, genocídio e violência sexual.
Na Guerra da Ucrânia, a Rússia declarou uma trégua unilateral na Páscoa, mas não há paz à vista. Cerca de 12.910 ucranianos civis foram mortos e 30.700 feridos. Em abril, em dois ataques russos, 54 pessoas morreram, sendo nove crianças, e 39 ficaram feridas. Estima-se que 46 mil soldados ucranianos morreram e 390 mil ficaram feridos. Entre os russos, 165 mil mortos e 900 feridos. Trinta e cinco 35 mil militares ucranianos estão desaparecidos, assim como 48 mil russos.
O conflito entre Israel e Hamas destruiu Gaza, com entre 60 mil e 70 mil mortos e mais de 100 mil feridos palestinos até janeiro de 2025. Quase 2 milhões de pessoas foram deslocadas e 95% da população não têm água potável. Infraestrutura, escolas e hospitais foram destruídos.
Em Mianmar, 3,5 milhões de pessoas foram deslocadas após o golpe militar de 2021. Recentemente, 3,3 mil morreram no terremoto, o que agravou a crise humanitária.
Na Colômbia, recrudesce o conflito entre o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidentes das FARC, que resultou em mais de 100 mortos em janeiro de 2025. Cerca de 20 mil pessoas deixaram suas moradias.
A crise humanitária no Haiti parece não ter fim. Somente entre janeiro e março deste ano, 1,5 mil pessoas foram mortas, 533 prisioneiros foram resgatados das prisões pelas gangues e mais de um milhão de pessoas estão deslocadas. A fome atinge 5,7 milhões de haitianos. “Pense no Haiti, reze pelo Haiti/ O Haiti é aqui”, diria Cawetano Veloso.
Amapá (69,9 mortes por 100 mil habitantes), Bahia (46,5 por 100 mil) e Pernambuco (40,2 mortes por 100 mil) lideram o ranking da violência no Brasil. Em contraste, São Paulo (7,8), Santa Catarina (8,9) e Distrito Federal (11,1) têm as menores taxas de homicídios.
Com a “territorialização” do crime organizado, traficantes e milicianos controlam favelas e subúrbios das nossas principais cidades. Entretanto, ainda há uma esperança. Houve redução da violência: em 2023, foram 46.328 mortes violentas intencionais, a taxa nacional foi de 22,8 mortes por 100 mil habitantes, a mais baixa desde 2011. Em 2024, houve uma queda de 5% no número de assassinatos, totalizando 18,21 mortes por 100 mil habitantes.
Feliz Páscoa!
Luiz Carlos Azedo
Repórter especial
Jornalista, trabalhou nos jornais O Dia, Última Hora, O Fluminense, Diário de Notícias, O Globo e Diário Popular. Dirigiu o semanário Voz da Unidade. Apresentou o programa 3 a 1 da TV Brasil e foi diretor da Companhia de Notícias
Fonte: www.correiobraziliense.com.br
Publicado em: 2025-04-20 06:00:00 | Autor: |