A Fuvest deu a largada, no início da tarde deste domingo (10), à 1ª fase de seu vestibular cercada de incertezas se o nível de segurança empregado será capaz de proteger os participantes do coronavírus.
Além da caneta esferográfica azul, a máscara é item obrigatório e quem se recursar a usá-la ao longo das cinco horas de prova será desclassificado.
Os portões dos 148 locais de prova espalhados por 35 cidades paulistas foram fechados debaixo de chuva às 13h, horário que marcou o início da prova.
O vestibular da Fuvest seleciona 8.242 vagas em 183 cursos da USP (Universidade de São Paulo), a instituição do país mais bem avaliada em rankings internacionais.
Outras 2.905 cadeiras da graduação estão reservadas ao Sisu, sistema do governo federal que preenche vagas nas universidades a partir das notas do Enem.
Pouco mais de 130 mil participantes iniciaram a maratona de resolução das 90 questões objetivas baseadas no conteúdo programático do ensino médio.
O número de ausentes, desclassificados e outros contratempos da prova só serão conhecidos nas próximas horas deste domingo.
A Folha acompanhou a movimentação dos vestibulandos na entrada do prédio D do campus Memorial da Uninove (Barra Funda), na zona oeste da capital paulista.
O local, com 3.512 inscritos, é o que congrega o maior número de participantes e, por isso, preocupava a organização por causa de possíveis aglomerações.
As restrições impostas pela pandemia, no entanto, seguraram os ânimos. Os fiscais de prova pediam para os inscritos não ficarem com a máscara no queixo.
Tampouco se viu representantes de cursinhos pré-vestibulares fazendo entregas de kits de apoio aos participantes.
O único problema observado pela reportagem no local foi a confusão de muitos candidatos em relação ao endereço em que fariam a prova. Na Barra Funda, dois prédios da Uninove separados apenas por uma praça sediam o exame neste domingo.
O taxista Marcos Gomes dos Santos, 44, viveu um sufoco com a filha Ana Júlia, 17, que esqueceu os documentos pessoais faltando poucos minutos para o fechamento dos portões.
A menina mora na Brasilândia, comunidade localizada na periferia da capital paulista, e não sabia se havia deixado o documento em casa ou no carro do pai.
”Eu fiquei muito desesperado porque é a chance dela de entrar na universidade. Fiz uma varredura louca no meu carro e achei o RG dela”, disse o pai, emocionado, à Folha.
No último minuto para o fechamento dos portões, o taxista entregou o RG, e Ana Júlia conseguiu entrar na sala de prova.
Com máscaras no rosto e garrafas de água mineral nas mãos, a maioria dos candidatos seguiram a recomendação da Fuvest: localizar e permanecer na sala até o início da prova
O que chamou a atenção foi a ausência da medição de temperatura dos participantes. A febre é um dos sintomas recorrentes da Covid-19.
Questionada, a Fuvest informou que o procedimento causaria o que não se quer num vestibular de grandes dimensões: aglomeração.
A fundação também se amparou em pesquisas e disse que a maioria dos inscritos deste ano são jovens —este grupo, diz a Fuvest, tem se mostrado mais assintomático para a Covid-19.
“Dentre os sintomáticos, apenas uma pequena parcela desenvolve febre [temperatura acima de 37,8º C] como sintoma. Dessa forma, o screening [triagem] perde eficiência”, segundo nota da fundação.
A Fuvest também disse que as pessoas com Covid-19 e febris costumam apresentar grande prostração. Esse fato também fez a fundação crer que a maioria dos candidatos nestas condições não compareceram na primeira fase de provas neste domingo.
A regra máxima nesta edição da Fuvest é: não fazer a prova quem contraiu Covid-19 a partir do dia 1º ou teve contato com pessoas contaminadas. A mesma recomendação recai sobre pessoas com sintomas da doença.
Como não é possível impedir a participação de candidatos com Covid-19, a Fuvest investiu em prevenção para inibir novas contaminações durante a prova.
Criou o que ficou conhecido como “salas anticontaminação”, com lotação máxima permitida de até 40% de candidatos posicionados a 1,5 metro de distância um dos outros.
Com lugares demarcados, os candidatos encontraram um sachê embebido de álcool 70% para higienizar os assentos antes do início da prova.
Foi proibido o uso de aparelhos de ar-condicionado nas salas.
O uso obrigatório de máscara —que cobre o rosto e a boca — para aplicadores da prova e inscritos e o fornecimento de álcool em gel ajudaram a garantir, segundo a Fuvest, as regras sanitárias dos tempos pandêmicos.
Todas essas regras integram o plano de biossegurança do exame que, segundo a Fuvest, foi aprovado pelo Centro de Contingência da Pandemia, do governo Doria (PSDB).
Matheus Torsani, médico assistente da Fuvest e o responsável pela estruturação do plano, disse que a qualidade das regras sanitárias desta edição do vestibular fizeram o governo paulista dar aval para a realização do vestibular em qualquer estágio da pandemia em São Paulo.
Cidades como Presidente Prudente, Registro, Sorocaba e Marília são sedes da prova e estão na fase laranja, a segunda mais restritiva do plano SP de Contenção da Covid-19.
A imprensa só obteve autorização para fotografar o andamento do vestibular da Fuvest no prédio da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária), da própria USP, no campus Butantã.
Os estudantes aprovados na primeira fase voltarão à segunda etapa da seleção entre os dias 21 e 22 de fevereiro. A primeira lista de aprovados será divulgada no dia 15 de março.