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ADARY OLIVEIRA – UM POUCO DE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA

ADARY OLIVEIRA – UM POUCO DE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA

Com a minha idade (83) cada dia mais vou me transformando em um contador de histórias. Por isso vale a pena relatar um pouco da história da indústria química da Bahia. A primeira iniciativa ligada à produção de combustíveis de origem mineral no Estado da Bahia data de 1889, quando foi instalada a fábrica John Grant & Co., em Maraú, com a razão social de Cia. Internacional de Marahú, para fabricar querosene, velas de parafina e sabão, utilizando como matéria-prima a turfa de Maraú, conhecida com a designação de marauíto.

O complexo industrial contava com uma fábrica de ácido sulfúrico, a terceira instalada no Brasil, e funcionou de 1889 a 1893. Este registro histórico tirei do excelente livro “A indústria química e o desenvolvimento do Brasil:1500 – 1899, escrito pelos meus ex-colegas do GS III do Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) Ernesto Carrara Júnior e Hélio Meirelles.

A Refinaria de Mataripe foi instalada em 1950, destilando 2,5 mil barris por dia (bpd). Hoje opera com capacidade superior a 300 mil bpd, a segunda maior do País. No entanto, a primeira unidade industrial petroquímica começou a ser instalada na Bahia em setembro de 1962 por iniciativa da Petrobrás, O Conjunto Petroquímico da Bahia (COPEB) começou a produzir amônia no dia 17 de julho de 1971, e ureia no dia 14 de outubro do mesmo ano, em Camaçari, no mesmo local onde foi implantado o Complexo Básico do Polo Petroquímico, como é relatado no livro de Gilberto Melo “Fafen: uma fábrica de vida”. Eu estudava engenharia química na UFBA e com os colegas de turma visitei o canteiro de obras em 1963.

Também em 1962, a Petrobrás instalou a primeira unidade de processamento de gás natural do País, no município de Pojuca, conhecida como planta de gasolina natural de Catu. Essa unidade entrou em funcionamento em 1964, extraindo condensados e gasolina natural. A Companhia Eletroquímica da Bahia, idealizada por Roque Perrone, foi fundada em 1963 para produzir 5 t/dia de soda cáustica e cloro. O objetivo era fornecer soda cáustica para a fábrica de lubrificantes da Petrobrás. Estava localizada em Lobato, subúrbio de Salvador, e passou, logo no início de seu funcionamento, ao controle do Grupo União. Sua razão social mudou para Companhia Química do Recôncavo (CQR) e sua capacidade de produção foi aumentada para 20 t/dia e em seguida para 40 t/dia, quando passou para o controle da Petroquisa em 1976. Em março de 1979 foi transferida para Camaçari. Essa fábrica foi paralisada quando operava com uma capacidade de 120 t/dia e pertencia à Braskem. O saudoso engenheiro Paulo Mariano, que fora seu superintendente durante 20 anos, deu-me essas informações por telefone quando ainda morava na Pituba.

Outra iniciativa que merece registro foi a do empresário Max Paskin, fabricante de chapas acrílicas no Rio de Janeiro, que atraído pelos incentivos fiscais do Nordeste, fundou, em 08 de julho de 1966, a Paskin S/A Indústria Químicas para produzir metacrilato de metila, acetona cianidrina, ácido cianídrico e cianeto de sódio. As fábricas, localizadas em Candeias, entraram em funcionamento em 1974. Hoje pertencem ao Grupo Unigel e têm a designação de Proquigel. Eu quando ainda era estudante de engenharia química da UFBA, estive com Max Paskin, em 1966, no Hotel da Bahia, sendo entrevistado para ser admitido como estagiário da empresa. Paskin negociava a aquisição de tecnologia russa por dificuldades de obter tecnologia do Ocidente. Posteriormente, após muito insistir, adquiriu tecnologia japonesa.

Antes mesmo da instalação do polo Petroquímico a indústria que se instalava na Bahia revelava uma vocação natural para a indústria química. Atualmente, não só a indústria química da Bahia, mas de todo o Brasil, tem declinado. Isso é verificado quando se analisa o crescimento das importações de produtos, a diminuição da produção nacional e o fechamento de fábricas. Há anos que a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) tem chamado atenção para a necessidade de adoção de políticas públicas que protejam a indústria nacional, importantíssimas para o seu desenvolvimento.

Os planos e programas que no passado deram bons resultados merecem ser base para definição de novos investimentos. O mundo está sempre em evolução e só conseguiremos reverter essa tendência com planejamento e ações proativas.

Nada do que aqui foi feito foi com pouco esforço e não se pode perder o que foi bravamente construído. É possível com empenho, estudos e dedicação reverter essa propensão. Se ficarmos sem tomar iniciativa nenhuma estaremos comprometendo o futuro da indústria nacional, importando cada vez mais os manufaturados. Urge uma tomada de posição com enfrentamento do problema.

 

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.)

Fonte: bahiaeconomica.com.br

Publicado em: 2025-06-01 19:06:00 | Autor: |

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