Atleta de 33 anos, que vai se aposentar em 2021, vê portas sendo abertas na modalidade dentro do maior evento esportivo do planeta
O ano em que o surfe vai aparecer na Olimpíada pela primeira vez na história vai coincidir com a última temporada do brasileiro Adriano de Souza, o Mineirinho, no Circuito Mundial. Em setembro de 2020, o paulista anunciou que 2021 será sua última temporada como profissional. Adriano foi campeão em 2015 e, depois da conquista, colocou meta de seguir competindo em alto nível por mais cinco anos. A meta de encerrar a carreira em 2020 foi adiada em virtude da pandemia de coronavírus. Sua primeira participação na temporada de despedida aconteceu na última semana em Pipeline, no Havaí, que abre o retorno do circuito mundial após paralisação por conta do coronavírus.
“Vai ser bacana demais ver o surfe dentro da Olimpíada, acho que vai abrir portas e dar muita visibilidade para nosso esporte seguir crescendo. Vou torcer para um ouro do Brasil, acredito que vai ser uma explosão gigantesca para os brasileiros se isso acontecer, vai fazer o surfe ganhar ainda mais força. Acho que temos chances da modalidade seguir ativa nos Jogos de Paris, em 2024, quem sabe em piscina de ondas. Esse formato vai fazer com que tenhamos surfe em qualquer lugar do mundo, os atletas poderão praticar da onde quiserem. A Olimpíada só tem a acrescentar”, comemora Mineirinho, que sofreu com lesões e ausências de etapas nos dois últimos anos.
Na Olimpíada, o Brasil será representado por Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Silvana Lima e Tatiana Weston-Webb.
Pressão interna
O atleta, sabendo que estará em breve se despedindo de praias, etapas e competições, não quer fazer menos do que o seu melhor na temporada de despedida. A ideia de menor responsabilidade não aparece para Mineirinho.
“Vai ter um sentimento diferente, com certeza. Já temos a pressão de ter uma boa posição no ranking para conseguir a classificação. Agora, terei uma pressão própria para eu fazer o máximo a cada etapa, sabendo que no ano seguinte não estarei ali. Quero mostrar quem eu sou, o atleta vive disso, dessa evolução constante, até para comprovar sua presença na elite. Ano que vem, vou precisar deixar tudo para sair de cada prova satisfeito, sem olhar pra trás”, analisa. O retorno da temporada 2021 está marcado para o mês de dezembro para os homens e novembro para as mulheres.
O desgaste e a exigência do circuito foram dois fatores que pesaram para a decisão de Adriano, que garantiu que vai sentir falta dos momentos fora da água e longe da competições. “Os momentos de relax após as etapas são muito legais, quando todos estão mais tranquilios, se abraçam e descontraem. É nessa hora que a gente combina de ir junto pra aeroporto, comer alguma coisa, disso vou sentir muita falta. Durante as competições, é sempre muito difícil o acesso aos atletas, todos brigando pelo seu espaço em um esporte individual, fechados em suas ‘casinhas’ para conseguir os objetivos”, lembra.
Relaxamento excessivo e cautela
O surfista pede cuidado redobrado no retorno após longo período sem provas, que fez muitos atletas relaxarem além da conta, sabendo que a próxima competição demoraria para acontecer. “Pode ser algo doloroso, como no futebol. Muitos perderam o ritmo e vão querer dar tudo de si nas etapas. Alguns podem se ‘quebrar’, vão tentar desempenhar alta performance e o corpo não vai conseguir acompanhar. Perdeu-se o timing. Muita gente relaxou de verdade, sabia que o próximo compromisso seria somente no final do ano, não seguiu com os treinos específicos”, conta.
Antes mesmo do seu retorno, Adriano já mostra o sentimento que será seu companheiro em breve. “Será doloroso voltar a ficar três meses longe de casa antes desta primeira prova, é um sacrifício que venho fazendo nos últimos 15 ou 16 anos. Uma hora, o corpo sente e foi por isso que tomei essa decisão. Quero sair com o carro lá em cima para as pessoas me verem, talvez, chegando em um pódio. Não estou saindo por sair, estou em busca de novos desafios”, completa.