Documento apreendido pela Polícia Federal que fundamentou as prisões preventivas na sétima fase da Operação Sisamnes, desta quarta-feira (28), lista os serviços oferecidos pelo grupo denominado C4, que significa “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”.
A PF afirma que esse grupo, composto por militares (da ativa e da reserva) e civis, seria dedicado “à prática de crimes graves, especialmente espionagem e homicídios sob encomenda”.
Eles cobravam, de acordo com o documento, R$ 50 mil para atuar contra “figuras normais”, R$ R$ 100 mil contra deputados, R$ 150 mil contra senadores e R$ 250 mil contra “ministros/Judiciário”. Uma das pessoas citadas nas anotações do grupo era o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
As investigações ainda apuram se esses valores eram apenas para espionagem ou envolviam outros serviços. Em conversas de WhatsApp, os investigados também falavam a respeito de execuções.
Eles afirmavam ter especialistas em informática, uma equipe de inteligência nacional e pessoas relacionadas à Receita Federal para prestar os serviços. Também diziam ter armamento pesado, inclusive fuzis com silenciador e lança rojão.
O documento ainda aponta custos previstos como “utilização de garotas e garotos de programa – iscas”, “material de disfarce – perucas, bigodes etc” e dois drones, além de carros com placas frias.
Em nota, o senador Rodrigo Pacheco afirma que externa repúdio “em razão da gravidade que representa à democracia a intimidação a autoridades no Brasil, com a descoberta de um grupo criminoso, conforme investigação da Polícia Federal, que espiona, ameaça e constrange, como se o país fosse uma terra sem leis”.
“Que as autoridades competentes façam prevalecer a lei, a ordem e a competente investigação sobre esse fato estarrecedor trazido à luz”, diz o comunicado.
Por determinação do ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, quatro ordens de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
A nova fase tem o objetivo de investigar os possíveis mandantes e eventuais coautores do homicídio do advogado Roberto Zampieri, em 2023, em Cuiabá. Ele foi morto dentro do carro, com dez tiros, em frente ao seu escritório na capital mato-grossense.
No celular de Zampieri, foram encontradas conversas com desembargadores, empresários e com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que intermediava as negociações com servidores do STJ.
Entre os presos preventivos na operação desta quarta está Anibal Manoel Laurindo, apontado pela polícia de Mato Grosso como o suspeito de ser mandante do assassinato. Ele tinha interesses em uma disputa de terra que ocorria na Justiça local.
Procurada, a defesa de Anibal disse que ainda está analisando a situação do cliente e se manifestará depois.
Também foram alvos o coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que era suspeito de intermediar o crime. O militar já estava preso, e sua defesa diz que ele está doente.
Também foi alvo o pedreiro Antônio Gomes da Silva, suspeito de ser o autor dos disparos, e o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa. O advogado de Hedilerson, Igor Lopes, afirma que não teve acesso ao teor da decisão e da operação e que a “defesa segue trabalhando com dedicação”.
A reportagem não localizou a defesa de Antônio.
Nesta quarta, também são cumpridas medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica, proibição de contato e saída do país e o recolhimento dos passaportes de outras quatro pessoas.
Publicado em: 2025-05-28 10:36:00 | Autor: José Marques |