Fernando Cury apalpou Isa Penna no plenário e é alvo de um procedimento disciplinar interno
O conselho de ética do Cidadania recomendou neste domingo que o partido expulse o deputado deputado estadual Fernando Cury (SP), que apalpou a colega Isa Penna (PSOL) no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e é alvo de um procedimento disciplinar interno. O relatório da comissão agora vai ser submetido ao diretório nacional da sigla, que pode acatar ou rejeitar a medida.
A legenda, que iniciou a análise do caso em 22 de dezembro – cinco dias após a revelação do fato –, já havia afastado o filiado das funções partidárias.
Segundo comunicado do partido, “a importunação sexual sofrida pela deputada fere frontalmente o código de ética do Cidadania”. A sigla citou como justificativa artigos que obrigam os filiados a respeitarem condições como gênero, cor/raça e orientação sexual.
“O fato é grave e insolente, não nos permite outra interpretação que não a de estarmos diante de um acontecimento desrespeitoso e afrontoso, que deve ser combatido”, afirmou a relatora do caso no conselho, Mariete de Paiva Souza.
No parecer, ela considerou ainda que as câmeras da Assembleia “flagraram um comportamento descabido, rasteiro e incongruente por parte do deputado”. “(O comportamento está) na direção totalmente oposta dos fatos ocorridos está o Cidadania, que tem em seu programa o compromisso assumido com as bandeiras feministas contra a violência e a exclusão. Por isso, nada menos que sermos exemplares”, escreveu.
A sugestão da relatora para que o parlamentar seja expulso foi acolhida por unanimidade pelos demais integrantes do conselho. A expulsão é a mais dura punição imposta a um filiado por violação de conduta ética no partido.
Cury, que se diz inocente, apresentou defesa à comissão e contestou a validade do processo aberto para investigá-lo. Seu advogado, Roberto Delmanto Junior, afirmou que o cliente não foi informado adequadamente sobre a acusação nem teve amplo direito de defesa.
O deputado não se manifestou sobre a decisão do conselho.
À reportagem Isa afirmou que, com o parecer deste domingo, o Cidadania demonstra retidão e pode ser o primeiro partido a expulsar um parlamentar por assédio. “Se confirmada, a decisão pode ser um precedente fundamental para a luta contra o assédio machista no Brasil”, disse.
O caso também está sendo apurado pelo Ministério Público de São Paulo e pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia. Isa o acusa de importunação sexual e pede que o deputado tenha o mandato cassado.
Relembre
Imagens gravadas pelas câmeras da Casa e exibidas na ocasião mostraram Cury se aproximando por trás e tocando o corpo dela. Isa estava de pé, diante da mesa diretora da Casa, conversando com o presidente Cauê Macris (PSDB), quando o colega chegou sem que ela percebesse. Na hora, ela tirou a mão de Cury e se desvencilhou dele.
O deputado falou após a exibição da gravação, negou ter cometido assédio e pediu desculpas por ter, segundo ele, abraçado a parlamentar. “Não houve, de forma alguma, da minha parte, tentativa de assédio, de importunação sexual ou qualquer outra coisa com algum outro nome semelhante a esse”, afirmou. “Eu nunca fiz isso na minha vida toda. (…) Mas, se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi”, discursou.
No documento enviado ao Cidadania, o advogado de Cury afirmou que demonstrará que seu cliente é inocente, “sempre respeitou todos os imperativos éticos do partido” e que a absolvição é “medida de justiça”.