Na segunda-feira (31/03/2025), os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores encaminharam à Unesco o dossiê que formaliza o pedido de reconhecimento do Maracatu Nação como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A manifestação, também conhecida como baque virado, está presente majoritariamente no estado de Pernambuco e já é reconhecida no Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2014.
A proposta será avaliada por um comitê intergovernamental responsável pela Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. A resposta deve ser divulgada até o final de 2026. A documentação encaminhada inclui informações históricas, culturais e sociais, além de um plano de salvaguarda elaborado em colaboração com mestres da tradição, pesquisadores e órgãos de preservação.
A Associação de Maracatus de Olinda (AMO), que reúne mais de 30 grupos da manifestação, participou ativamente do processo. De acordo com o coordenador de comunicação da AMO, mestre Nilo Oliveira, o envio do dossiê consolida um esforço iniciado em 2021, envolvendo também a Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe), o Iphan e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
O Maracatu Nação é uma manifestação com origem nos séculos XVII e XVIII. Seus cortejos são compostos por personagens hierarquizados que remetem a rituais de coroação de reis e rainhas do Congo africano, entre os quais estão o rei e a rainha da nação, a calunga – boneca símbolo espiritual do grupo – e diversos integrantes com funções específicas. A manifestação ocorre majoritariamente no Carnaval, sendo praticada em cidades da Região Metropolitana do Recife, como Olinda, Igarassu e Jaboatão dos Guararapes.
Mestre Nilo, também à frente do Maracatu Nação Maracambuco, destacou a importância simbólica da calunga, chamada Isabel Arruda de Oliveira em seu grupo. O Maracambuco foi fundado em 1993 no bairro de Peixinhos, em Olinda. Para ele, o reconhecimento da Unesco pode contribuir para a difusão da cultura e ampliar sua valorização em outros territórios.
Outro entusiasta da candidatura é o mestre Fabiano Pedro da Silva, líder do Maracatu Nação Tigre, fundado em 1975. Segundo ele, a formalização do reconhecimento representa avanço para a tradição, que atualmente já tem registros em países como Canadá, Estados Unidos, França e Alemanha. O Nação Tigre permanece em atividade no bairro de Peixinhos desde 1975 e está sob liderança de Fabiano desde 2010.
Contudo, o envio do dossiê também gerou críticas. Danillo Mendes, mestre do Maracatu Encontro do Dendê, fundado em 1998 no bairro da Macaxeira, demonstrou reservas quanto aos efeitos práticos do reconhecimento. Segundo ele, o tombamento nacional de 2014 não resultou em políticas públicas efetivas de fomento, financiamento ou infraestrutura para os grupos, que enfrentam dificuldades para manter suas atividades.
Danillo afirmou que as ações previstas no plano de salvaguarda não foram implementadas de forma equitativa. Entre elas, a geração de renda e a autonomia financeira das nações. O mestre também criticou a falta de estrutura nas passarelas destinadas aos desfiles, a ausência de incentivos públicos e a precariedade das condições oferecidas aos grupos durante o Carnaval.
Atualmente, o Brasil tem sete bens culturais reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco: samba de roda do Recôncavo Baiano, expressões orais e gráficas dos Wajapi, frevo, Círio de Nazaré, roda de capoeira, Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão e o modo de preparar o queijo minas artesanal. Caso a candidatura do Maracatu Nação seja aceita, será o oitavo bem cultural brasileiro na lista.
*Com informações da Agência Brasil.
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Fonte: jornalgrandebahia.com.br
Publicado em: 2025-04-13 12:00:00 | Autor: Redação do Jornal Grande Bahia |