Tem uma frase que eu gosto muito que é assim: “o louco é aquele que abre o caminho para o outro passar!”. O louco é desprovido de uma razão comum, despreza o bom senso e por isso, arrisca-se mais do que os ditos normais. Quando soube do falecimento do acadêmico José Murilo de Carvalho, abrindo uma vaga na Academia Brasileira de Letras, me perguntei: por que não?

Por que não para saber se o meu currículo é aceito para postular a cadeira de número 5? Essa foi a minha única intenção, juro.

Contei com a ajuda de um amigo, o escritor e dramaturgo Jacob El-Mordiski e enviei uma carta ao Presidente da ABL, Merval Pereira, demostrando o interesse na vaga, juntamente com o meu portfólio. Demorou uns dias, mas a relação dos candidatos a cadeira foi publicado. Onde lê-se José Ricardo dos Santos Rodrigues, sou eu.

Já me sentia feliz em ter o meu currículo apreciado e aprovado pelo Presidente. E mais feliz ainda em saber que na disputa estava também Ailton Krenak.

Krenak nasceu em Itabirinha, em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. Nos anos 70, participou da criação da União das Nações Indígenas, primeiro movimento de expressão nacional, que enfrentou resistência da ditadura militar. Teve papel decisivo na Assembleia Constituinte e protagonizou um dos momentos mais emocionantes, quando subiu à tribuna para defender o direito à terra e o respeito às populações indígenas

“Os senhores não poderão ficar com mísseis, os senhores não terão como ficar alheios nessa agressão movida pelo poder econômico, pela ganância, pela ignorância do que significa ser um povo indígena.” – bradou pintando o seu rosto com pasta de jenipapo.

A eleição do Ailton Krenak para a Academia Brasileira de Letras é uma reparação histórica e reafirma o compromisso com a representatividade. E eu, inesquecivelmente feliz demais por ter participado dessa eleição.

Quem sabe daqui algum tempo, algum outro escritor meritiense arrisque-se à uma postulação a uma cadeira na ABL. Bem, pelo menos o caminho foi aberto.