Após as falsas promessas do atual governo municipal a respeito da população em situação de mendicância na capital, membros da Arquidiocese de BH relatam aumento perceptível de pessoas famintas em Belo Horizonte, dando ênfase na condição precária de moradia e piora na saúde. 

Em recente entrevista ao jornal O Tempo, a coordenadora da Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH relata a inegável piora na condição da população sem-teto. Segundo a entrevista, a instituição atendia em média cinco a sete novas pessoas por semana em 2022. Em 2025, chega a dez.

 “A gente percebe a olhos nus, no cotidiano […] São pessoas que passam por condições que vão se precarizando, até chegar ao limite e decidir morar na rua. São pessoas que estão fugindo da violência, que têm condições de saúde não tratadas, que crescem no mundo das drogas. Há também a questão da falta de oportunidade de renda. Sem dúvida, são necessárias políticas públicas nacionais que consigam atender as pessoas em maior situação de vulnerabilidade”.  

Os últimos dados exatos são de 2022, divulgados em 2023, pelo IV Censo de População em Situação de Rua de Belo Horizonte, em parceria da prefeitura com a UFMG. Nele, é constatado que 10% de uma população de 5.300 pessoas se alimentam de doações e restos de comida, e 7,2% sobrevivem pedindo comida nas ruas.

Ainda segundo o Censo, 50% se alimentam no Restaurante Popular, entretanto, desde 2019, o restaurante passou de 452.213 refeições distribuídas para 625.612, em 2024, com aumento de 38.34%. 

Em comparação com o último Censo, entre 2013 e 2022, houve um salto de 190% no número de pessoas, agravando a situação após a pandemia de COVID-19. No ranking das três principais motivações para a situação, segundo os entrevistados pelo Censo, 36,7% alegam problemas familiares, 18,8% uso de álcool/drogas, 20,8% desemprego e 16,4% renda insuficiente.

Promessas

O atual prefeito Fuad Noman (PSD), na campanha de 2024, ressaltou o trabalho do programa Estamos Juntos, realizado pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), em 2019, alegando que “A gente ainda não conseguiu trazer esse número de pessoas e está tentando identificar o porquê. O que nós podemos melhorar? É saúde? É algum tipo de conforto? Esse é o trabalho que está sendo feito nesse momento”. 

Em realidade, em entrevistas ao Jornal Itatiaia em 2022, pessoas em situação de rua relataram o contrário do que foi colocado pelo prefeito em campanha a respeito dos abrigos: 

“Quando dá 17h, se você já não estiver na porta, você pode não achar mais vaga e isso atrapalha muito. Como tenho trabalhado com reciclagem, tenho mais serviço à noite. Se eu for para o abrigo, não dá tempo de fazer nada. É muita burocracia ir para o albergue. Às vezes, você só quer dormir e fazem tantas perguntas, você já não está com um psicológico bom”.

“Eu só queria ter um quarto digno para quem trabalhou e contribuiu tanto com a previdência. Nós somos moradores de rua, mas não somos cachorros. Nós temos uma história, uma família e filhos; não dá para ser tratado como animal e ser jogado em um abrigo. É nojento”.

“A gente já não tem muita coisa, e quando você acorda não tem nada. Você não sabe se vai dormir e acordar bem, porque do mesmo jeito que você está sem segurança na rua, lá no albergue é a mesma coisa”.

Crise do Capitalismo Burocrático

Os dados confirmam as relações semifeudais e semicoloniais no campo e na cidade, uma vez que 81,4% da população entrevistada é autodeclarada preta, e mais da metade (56,3%) é oriunda de outras localidades. 

Como relatado em 2022 pelo Jornal A Nova Democracia,  “o gigantesco aumento no número de moradores de rua é um fato cuja raiz está na crise geral do capitalismo burocrático no País.” A imensa maioria dos moradores de rua são membros de famílias oriundas, direta ou indiretamente, da zona rural, expulsos de lá pela concentração de terras na mão de um punhado de latifundiários e lançados nas favelas dos grandes centros urbanos, muitas vezes sendo despejadas pelo velho Estado após conseguirem erguer casas que construíram com o suor de muito trabalho.”