Val Kilmer não demorou a encontrar sua vocação. Nascido em Los Angeles e cercado pela efervescência cultural de Hollywood, com apenas 17 anos, ele se tornou o aluno mais jovem a conquistar uma vaga na prestigiosa academia de artes Julliard, em Nova York. Escrevia poemas, cantava e amava o teatro. A fama mundial veio em 1986, com a estreia do arrasa-quarteirão Top Gun, no qual Kilmer era Iceman, rival de Maverick, protagonista interpretado por Tom Cruise. O sucesso da produção abriu todas as portas possíveis para o ator, que, inicialmente, aproveitou cada uma delas – até cair no vale dos excluídos de Hollywood para, décadas depois, encontrar redenção de forma inesperada.

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Do auge à fama de difícil

Em 1991, Kilmer provou seu talento aos que ainda eram céticos ao interpretar o vocalista Jim Morrison em The Doors, filme dirigido por Oliver Stone. A atuação elogiada elevou o cacife do ator na indústria, que até ali o considerava apenas mais um bonitão musculoso e descerebrado entre os vários que dominaram o meio naquela época. Em 1995, ele chegou ao topo quando assumiu o figurino do herói Batman, no filme Batman Eternamente. Contra as expectativas, recusou participar de uma sequência. Na época, era o ator mais bem pago de Hollywood e ocupava uma posição que lhe dava a liberdade de escolher o projeto que quisesse fazer. Mas nem tudo eram rosas. Nos bastidores, a fama de difícil de Kilmer, que brigava com frequência com colegas e diretores se espalhou, drama que fez o ator ser escanteado pelos melhores profissionais da indústria cinematográfica. 

O fracasso de crítica e bilheteria de A Ilha do Dr. Moreau, de 1996, com Marlon Branco no elenco, foi o marco da rápida ascensão e queda de Val Kilmer, que continuou trabalhando avidamente, mas não alcançou aclamação nos renomados festivais de cinema, nem nas premiações, e ainda deixou a desejar nas bilheterias. 

Problemas de saúde 

Em 2014, veio o baque. Kilmer foi diagnosticado com um câncer de garganta. Devoto da religião Ciência Cristã, o ator se recusou a aceitar a notícia e quis rejeitar alguns tratamentos. A pedido dos filhos, porém, ele mudou o discurso, se tratou e precisou ser submetido a uma traqueostomia. Entre os procedimentos, Val Kilmer perdeu a voz. Insistente, aderiu a uma aparelho movido à inteligência artificial para recuperar a possibilidade de falar. 

Documentário honesto

Em 2021, Val Kilmer encontrou a redenção com o documentário Val, do Prime Video. Além de ator, músico e escritor, Kilmer tinha uma veia de diretor que o levou a filmar seu dia a dia ao longo de quarenta anos. A reunião dessas fitas resultou no documentário, que mostra a trajetória de Kilmer através de seus olhos, o que lhe deu a chance também de assumir erros do passado. A produção foi aplaudida no lançamento no Festival de Cannes.

Despedida

Seu último trabalho nas telas foi um retorno emotivo e simbólico em Top Gun: Maverick, de 2022. A sequência do sucesso dos anos 1980 trouxe Tom Cruise de volta ao protagonista piloto que marcou época e deu a Kilmer a chance de se despedir dos fãs, em uma participação rápida, mas inesquecível. Val Kilmer morreu nesta terça-feira, 1º, aos 65 anos, vítima de uma pneumonia.