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Esporte

Palestino une futebol, identidade e luta pela Palestina – 23/04/2025 – Esporte

Palestino une futebol, identidade e luta pela Palestina – 23/04/2025 – Esporte

O lema “Más que un equipo, todo un pueblo” (Mais do que um time, todo um povo) está em vários lugares do estádio Municipal de La Cisterna, no Chile. Escrita em espanhol e em árabe, a frase é uma referência aos palestinos e também uma motivação para os jogadores do Club Deportivo Palestino. O time chileno, que move uma torcida apaixonada, é o próximo adversário do Cruzeiro pela Copa Sul-Americana.

Fundado em 1920 por migrantes que decidiram construir sua vida no Chile, o time de futebol é conhecido por suas frequentes demonstrações de apoio à criação de um Estado palestino no Oriente Médio e pela defesa dos que vivem nos territórios da Cisjordânia e de Gaza. Além disso, tornou-se um elo entre a região e o Chile, que tem o maior comunidade palestina fora do mundo árabe.

Segundo Ricardo Marzuca, integrante do Centro de Estudos Árabes da Universidad de Chile, os primeiros palestinos chegaram ao país no final do século 19, em meio à decadência do Império Turco-Otomano e à crise econômica gerada. Ele explica que essa migração se deu no contexto do movimento de sírios e libaneses rumo às Américas.

Até o fim da Segunda Guerra Mundial, o Chile recebeu entre 8 mil e 10 mil árabes, sendo a maioria palestinos cristãos ortodoxos, que viram no país um clima semelhante ao da terra natal. Esse êxodo continuou nos anos seguintes, principalmente devido à criação do Estado de Israel, em 1948.

“A história do Palestino acaba com o argumento de que a Palestina nunca existiu. Como poderia haver um time de futebol no Chile fundado por migrantes palestinos mais de 20 anos antes do surgimento de Israel?”, questiona Nicolás Abusada, 45, um dos diretores do clube. “Hoje, a ressonância que o time tem para o mundo é enorme e colabora com a causa palestina.”

O Palestino já conquistou dois títulos na primeira divisão do Campeonato Chileno, dois na segunda e três na Copa Chile. Em torneios continentais, participou sete vezes da Copa Libertadores da América e outras sete da Sul-Americana. Nesta última, a sua melhor campanha foi em 2016, quando foi eliminado nas quartas de final pelo argentino San Lorenzo.

Na Sul-Americana de 2025, o time divide o Grupo E com o Cruzeiro, o Mushuc Runa, do Equador, e o Unión Santa Fe, da Argentina. Até o momento, após duas rodadas, ocupa a segunda posição, com uma vitória e uma derrota. A partida contra o time mineiro ocorrerá nesta quinta-feira (24), e os “árabes”, como são conhecidos, serão os mandantes. O confronto acontecerá em Coquimbo, no norte do Chile, por falta de estrutura adequada no estádio do clube chileno.

Memória e tradição

Inaugurado em 1988, o estádio do Palestino está localizado em La Cisterna, região distante do centro de Santiago, e tem capacidade para 12 mil pessoas. Em dia de jogo, torcedores com o seu kuffiye –lenço típico palestino– entoam cânticos e balançam bandeiras da Palestina. Na hora da fome, falafel e shawarma são algumas opções.

Sempre que pode, Carlos Medina, 49, vai ao estádio acompanhar o seu time do coração. “Eu gosto do ambiente familiar e tranquilo de lá”, diz. Bisneto de um palestino nascido em Beit Jala, o engenheiro de informática acompanha o futebol desde criança, apesar de não ter sido incentivado pelos pais a gostar do esporte. Somente quando já era mais velho passou a frequentar o estádio de La Cisterna para ver a equipe tricolor jogar.

Hoje, Medina é o responsável pelo site Palestino Histórico, que compila informações e histórias do clube. “A página nasceu a partir do documentário ‘Cuatro Colores’, que é sobre o time. Quando terminou todo o processo, descobri que muitas informações ficariam fora. Foi aí que resolvi reuni-las em um site e contá-las de maneira correta, pois até então ninguém tinha feito isso”, lembra.

Uma das seções do site é dedicada aos jogadores que tiveram maior destaque no time. Entre eles está Roberto Coli, integrante da equipe que conquistou o primeiro título nacional do Palestino, em 1955. Ídolo de Medina, Oscar Fabbiani é considerado um dos maiores jogadores do clube e, entre 1975 e 1978, ganhou um Campeonato Chileno e duas Copas Chile.

Outro jogador que fez história no Palestino foi Elías Figueroa. Logo depois de ter se tornado ídolo em solo brasileiro jogando pelo Internacional nos anos 70, o chileno foi contratado pelos “árabes”, que defendeu de 1977 e 1980. Na década de 90, Figueroa foi técnico do tricolor e deixou o clube em 1996, quando retornou a Porto Alegre para treinar o Inter.

O Palestino tem sido presença frequente nos torneios continentais. A participação recorrente e as causas defendidas têm levado o clube a aumentar sua torcida de maneira significativa. Hoje, possui torcedores também no Oriente Médio, onde os jogos são transmitidos pela Al Jazeera. Uma paixão que ultrapassou fronteiras e estreita uma relação antiga.

Fonte: redir.folha.com.br

Publicado em: 2025-04-23 23:00:00 | Autor: Rafael Carneiro |

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