Foliões do Bloco do Defunto enterraram o ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Keko do Armazém (PP) (Clayton da Silva Marques), à meia-noite após a quarta-feira de cinzas (5/3). A população na festa gritou diversas vaias ao ex-prefeito, que teve seu mandato marcado pela piora das condições de vida do povo.
O mandato de Keko do Armazém foi marcado pelo aprofundamento dos ataques contra o povo na região. O prefeito colaborou ativamente com o projeto de concessão de 119 hectares do Parque Armando de Holanda Cavalcanti (PMAHC) para o Porto de Suape. A concessão afeta diretamente a população local, que em grande parte sobrevive da pesca de mariscos e caranguejos dentro da área do Parque.
O Porto afirma que não expulsará a população, mas seu histórico diz o contrário. Em 2024, o Porto começou a fazer dragagens próximas à Ilha das Mercês, local onde vive o Quilombo das Mercês. Os quilombolas afirmaram em protesto que se tratava de uma tentativa de expulsar a população do local, impedindo que a comunidade exercesse sua principal atividade de subsistência, a pesca. Em entrevista ao jornal AND, uma das pescadoras de aratu que preferiu não se identificar afirmou que o governo, junto ao Porto, comprava as eleições para a entidade Colônia de Pescadores, a fim de fazer com que os trabalhadores da região não tivessem como reagir aos ataques. “E a gente sabe que quando a Suape quer, que é governo, tira (o povo), tira mesmo.”, denunciou a pescadora ao AND.
Em 2024, devido à dívida de R$ 1,7 milhão, a energia de diversos centros administrativos e áreas do Cabo de Santo Agostinho foi cortada, como da própria prefeitura e na área da comunidade da Usina Mercês. Foi necessária uma ordem do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) para que a energia no Cabo de Santo Agostinho retornasse.
Também em 2024, houve diversos escândalos durante o período eleitoral envolvendo venda de votos por cestas básicas. O crime foi cometido por “apoiadores” de Keko do Armazém e um dos quatro homens que estavam passando de casa em casa com as cestas básicas foi preso, e os outros três foram investigados por corrupção eleitoral ativa.
Cultura de protesto
O Bloco do Defunto é uma manifestação histórica que une a irreverência da festa popular com a crítica contundente à inação dos políticos do velho Estado. Todo ano, à meia-noite, ele sai do Cemitério São José com um “homenageado” diferente para ser enterrado, em uma paródia que denuncia as falhas do poder público. “O bloco é um alerta, uma crítica construtiva aos políticos da cidade, feita com irreverência”, explica o presidente do Bloco, Nicéas Balbino, em entrevista ao monopólio de imprensa Diário de Pernambuco.
Criado em dezembro de 1998, o Bloco surgiu com a proposta de, anualmente, enterrar um “político que não fazia nada pela população.” A ideia foi concretizada em 1999 e, desde então, o Bloco do Defunto se consolidou como um importante espaço de protesto e reflexão. Ao longo de seus 26 anos de história, a festa tem se mantido firme no seu propósito de criticar os políticos que cometem crimes contra o povo e negligenciam suas reais necessidades.
Publicado em: 2025-03-18 09:52:00 | Autor: Igor Totti |