Três décadas após disputar sua última corrida na F1, Alain Prost ainda busca ressignificar sua reputação no cenário do automobilismo mundial. Para o francês, muitos fãs de corridas costumam se lembrar mais de sua rivalidade com Ayrton Senna do que de seus feitos nas pistas.
Prestes a completar 70 anos de vida, o lendário piloto está cansado de ser retratado, segundo ele, apenas como o vilão da história do brasileiro. “É só disso que as pessoas lembram”, reclamou em entrevista para o Canal+, da França, que lançou recentemente um documentário sobre o francês, chamado “Prost”.
A obra é uma espécie de resposta à recente série que a Netflix lançou para contar a história de Senna, na qual o francês, em muitas passagens, é visto como um vilão.
Não é de hoje, no entanto, que ele reclama de seu retrato na mídia. Na época em que corria com Senna, ele também acusava jornalistas de terem mais simpatia pelo brasileiro.
No documentário da rede de televisão francesa, o ex-piloto também se queixa do público francês que o apelidou de “Anão Amarelo”, cor dos carros da equipe Renault que ele pilotava em 1982, na época em que trava uma rivalidade com o compatriota René Arnoux.
Mesmo superando de longe o rival, ostentando hoje seus quatro títulos mundiais e o fato de ainda ser o quinto maior vencedor da F1, com 51 vitórias, Prost tem a percepção de que seus feitos são “reduzidos” ao seu papel na história dos rivais.
“Há 30 anos, convivo com uma espécie de redução da minha vida, que é o episódio Prost-Senna”, afirmou.
Sem negar a importância histórica dessa rivalidade, o francês gostaria de ver sua trajetória ser contada do início, partindo do período no qual ele se diz sentir mais orgulho.
Neto de sobreviventes do genocídio dos armênios da Turquia no início do século 20, Alain Prost teve uma infância de classe média perto de Lyon, terceira cidade mais populosa da França. Seu pai era dono de uma oficina de cadeiras metálicas de cozinha.
A paixão pelos carros, porém, não era exclusiva dele. Na verdade, seu irmão mais velho, Daniel, era o predestinado a se tornar piloto, mas foi impedido pela saúde frágil –um tumor no cérebro na adolescência e um câncer de pulmão que o matou aos 33 anos, quando o caçula já era campeão da F1.
“Corri um pouco por procuração”, contou Prost no documentário sobre sua carreira.
Seu talento fora de série combinado com habilidades políticas o ajudaram construir sua trajetória, iniciada quando ele tinha 14 anos e começou a correr de kart. Ele progrediu nas categorias juniores, vencendo os campeonatos francês e europeu de Fórmula 3 antes de ingressar na McLaren, em 1980, aos 24 anos.
Prost correu ao longo de 13 temporadas na F1, de 1980 a 1993, com um breve hiato em 1992, quando ele se afastou das pistas. Com exceção ao seu ano de estreia, quando foi o 16º, sempre fechou o campeonato entre os cinco primeiros colocados.
Em oito oportunidades, foi o primeiro ou segundo colocado, vencendo os Mundiais de 1985, 1986, 1989 e 1993, além dos vices em 1983, 1984, 1988 e 1990. No pós-carreira, Prost seguiu envolvido com a F1, tendo trabalho na construtora Alpine em diferentes cargos diretivos desde 2015 até ser demitido, em 2021.
“Minha carreira não durou dois ou três anos”, disse ele em entrevista ao site motosports.com. “Olhe para os meus outros companheiros de equipe: [John] Watson, [René] Arnoux, [Eddie] Cheever, Niki [Lauda], Keke [Rosberg], Stefan [Johansson], Nigel [Mansell], Jean [Alesi] e Damon [Hill]. Ninguém fala sobre eles. Eu tive cinco campeões mundiais como companheiros de equipe, então é uma pena”, criticou.
Com nenhum deles, no entanto, Prost viveu uma rivalidade tão intensa como foi com Senna. Os dois foram companheiros durante duas temporadas, em 1988 e 1989.
No primeiro ano, o brasileiro conquistou o título da F1, o primeiro de seus três. No segundo ano, o francês levou o troféu após o polêmico desfecho daquele campeonato, quando ele bateu no carro de Senna na última corrida.
Em 1990, com Prost na Ferrari, Senna deu o troco, praticamente da mesma forma, e ganhou o seu segundo troféu após um acidente com o francês no mesmo circuito de Suzuka, no Japão.
Para além de comparações baseadas em números, episódios como esses ocorridos no Japão conectaram as trajetórias de Alain Prost e Ayrton Senna de tal forma que é quase impossível falar de um sem citar o outro mesmo que isso incomode o francês.
Raio-X | Alain Prost
Tetracampeão de F1 em 1985, 1986, 1989 e 1993, o francês participou ao longo da carreira na elite do automobilismo de 199 GPs, com 33 poles e 51 vitórias.
Publicado em: 2025-02-23 23:15:00 | Autor: Luciano Trindade |